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Os novos Pinga Amor

Amor – Os Novos Românticos

Assumem-se românticos incuráveis e as provas de amor para eles não têm limites. Quem é afinal, esta nova geração de apaixonados que continua a viver o amor com mesma intensidade que no tempo das nossas avós?

Entrevista para a Revista Lux Woman :: Agosto 2011

Amor - Novos românticos

No dia em que a mulher voltou da maternidade com o primeiro filho de ambos, Ricardo Santos tinha planeado fazer-lhe uma surpresa inesquecível. “Combinei com dois amigos para se pendurarem num viaduto da A5 e segurarem num cartaz, previamente preparado por mim, com a seguinte mensagem: ‘Parabéns, mãe, o mundo está mais bonito. Bem-vindo Jeremias”, recorda o arquitecto, um romântico assumido, seis anos depois da original prova de amor que deu à mulher e ao filho. “Quando a Carla conseguiu ler o cartaz, limitou-se a chorar e a olhar para mim com todo o amor do mundo espelhado no olhos. O que fiz foi tão pouco comparado com o que recebi…” Ricardo confessa não ter vergonha de ser um romântico, tem até muito orgulho, “mesmo que às vezes passemos por palermas”, reconhece.

Ana Garcia Martins, também ela uma romântica crónica, sublinha que “as surpresas são importantes para mostrar à outra pessoa que continuamos empenhados em manifestar o nosso amor”. Foi o que fez um dia com a intenção de deixar o marido boquiaberto. E conseguiu! Depois de ter tido conhecimento de uma empresa que se dedicava às surpresas originais – a Brain Surprise -, a jornalista decidiu cobrir totalmente o carro do marido com post-its a dizer ‘amo-te’. “Durante a madrugada, e depois de eu ter avisado onde é que o carro do meu marido estava estacionado, a empresa esteve horas a colar milhares de post-its de todas as cores”, conta, divertida. “De manhã tive de arranjar um esquema para sairmos de casa ao mesmo tempo e irmos juntos até ao carro. Estávamos a uns cinco metros e ele ainda nem tinha reparado. Quando viu ficou meio incrédulo, mas gostou da surpresa. Não gostou tanto foi da parte de ter de descolar todos os post-its. Ainda me levou ao trabalho com o carro naquela figura, mas havia papelinhos a voar por todos os lados e ele teve de os tirar um a um. Acho que ainda este uma hora naquilo. Mas tenho a certeza que foi memorável.” Ainda hoje, Ana Garcia Martins gosta de deixar mensagens amorosas ao marido, de escrever postais, de lhe oferecer presentes só porque sim, de o surpreender com um concerto ou um fim de semana romântico. “E ele também é assim. Por isso, entendemo-nos bem”, constata, em jeito de conclusão.

O romantismo (ainda) está na moda

Estamos em pleno século XXI e o mundo continua povoado de pessoas românticas que não se inibem de dar provas de amor à sua cara-metade. Os jantares à luz das velas e o simples gosto de oferecer flores não perderam o seu encanto, apesar de as demonstrações de afeto estarem cada vez mais arrojadas. Segundo a psicoterapeuta Celina Coelho de Almeida, “o romantismo continua a ser, para muitas pessoas, uma forma de estar na vida”. Segundo a especialista em terapia de casal, não é a rotina o pior inimigo das relações, mas antes a falta de intimidade emocional, bem como a dificuldade em gerir a família alargada”. A falta de atenção mútua é uma das queixas mais frequentes que a psicoterapeuta ouve no consultório. “na maioria das vezes, as relações não sobrevivem porque ambas as partes deixam de se envolver na vida emocional um do outro. De repente, não sabem verdadeiramente nada um do outro”, revela. Mas, afinal, qual é o perfil de um romântico? Serão eles eternos sonhadores? Como explica Celina Coelho de Almeida, “os românticos são pessoas normalmente mais envolvidas com os seus sentimentos, mais ligadas à parte espiritual da relação, que vivem de forma mais intensa (ao nível das emoções). Regra geral, são também indivíduos mais imaginativos e pouco preocupados com as regras vigentes”.

Amor sem fronteiras

Pouco preocupado com as regras esteve Tiago Silva quando resolveu forçar a entrada em Mocambique, mesmo sem visto, para surpreender a namorada, que estava a fazer voluntariado numa pequena aldeia. “Tinha começado a namorar com a Sofia em julho de 2007 e, um mês depois, ela foi para Mocambique, numa missão de voluntariado, durante um mês e meio. Nesse ano tinha programado umas férias com mais dois amigos, no Quénia e na Tanzânia. Quando eles regressaram a Portugal, eu segui viagem rumo a Entre-Lagos, onde a Sofia estava”, conta o licenciado em Ciências do Desporto, de 28 anos, que chegou ao seu destino depois de 12 horas de viagem de autocarro, de uma espera de mais de nove horas por um barco (acabou por dormir na praia ao relento) e de ter, praticamente, atravessado o Malawi de uma ponta à outra, durante quase 15 dias. ” Quando cheguei a Entre-Lagos, a primeira aldeia na fronteira do Malawi com Moçambique, tal como me tinham dito, dirigi-me ao posto fronteiriço onde pedi um visto para entrar no país. Disseram-me que ali não tinham autoridade para me dar o visto e que tinha de voltar a sair e subir 100 km mais a norte para poder obtê-lo.” Mas o amor falou mais alto e Tiago resolveu arriscar. Passou a fronteira e, depois de ter percorrido mais alguns quilómetros a pé, foi conduzido por um grupo de crianças até à casa onde a namorada se encontrava. “Quando a Sofia me viu, pediu-me para não a beijar; por causa dos miúdos que estavam à nossa volta e do choque cultural que isso implicava. Tive de esperar mais uns minutos até estar dentro de casa para poder abraçá-la e beijá-la da forma que tanto ansiava desde que tinha começado a viagem. “O casal de namorados ainda ficou dois dias junto, até o suposto ‘clandestino’ se denunciado ao guarda da fronteira, que o obrigou a ir-se embora. Hoje, passados quatro anos, e já a viverem juntos, Tiago Silva admite que voltaria a fazer tudo, em nome do amor que sente pela namorada.

Pedido de casamento ao contrário

No último Natal, Joana Vicente tomou a iniciativa de pedir o namorado em casamento. “Ofereci-lhe um livro infantil que se chama ‘O que é o amor’ de José Jorge Letria, que explica de uma forma muito simples o significado desse sentimento. Na última página, como ambos adoramos viajar, escrevi a seguinte mensagem: ‘O amor é a maior viagem das nossas vidas. Queres um bilhete de ida, sem volta? Casas comigo?”, conta, entusiasmada. Para o casamento, a 2 de setembro, a gestora de produto tem planeado vários momentos românticos. “Vamos casar na praia, ao final da tarde, e vai haver um momento à noite em que todos os convidados vão caminhar descalços pela areia com uma vela branca com o nosso nome gravado e fazer um minuto de silêncio durante o qual vão desejar-nos tudo o que têm tido de bom nas suas relações. “Para Joana, que sempre sonhou com o dia do seu casamento, nunca foi relevante quem pediria quem em casamento. “O que é importante é que o pedido seja feito do fundo do coração, que emocione a outra pessoa e a faça sentir-se amada”, diz, segura.

O romantismo não tem, em definitivo, os dias contados. Apesar da correria do dia-a-dia, existem ainda muitas pessoas que não se cansam de surpreender os seus parceiros com verdadeiras (e originais) provas de amor: Um amor urgente e intenso, como se vivia no tempo das nossas avós. Como defende a psicoterapeuta Celina Coelho de Almeida, “uma prova de amor, não necessita de tempo. Por vezes, é dada quando menos se espera. Pode passar por um voto de confiança, uma acção ou uma simples atitude”.

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